Hoje, atendendo estudantes locais, vou contar como a usina nasceu. Conforme informações obtidas através do senhor José Mendes Macedo* que foi o primeiro prefeito de Lagoa da Prata e mentor da criação, instalação e funcionamento da usina açucareira, esta nasceu em consequência de ligeiro bate papo acontecido no Rio de Janeiro, acontecido no primeiro semestre do ano de 1945, que foi contado assim: 'Corria o ano de 1945 quando eu mantinha negócios na capital federal. Desde que me mudei de Lagoa da Prata, em 1940 quando deixei de ser prefeito e já residia em Belo Horizonte, de vez em quando ia lá para tratar de assuntos da empresa de que participava no Rio. Certo dia, via-me numa lanchonete carioca, na Barra da Tijuca, quando me encontrei com dois amigos bem conhecidos e de certa influência no Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Nesse contato, conscientizei-me da disponibilidade de cotas viáveis à instalação de usinas açucareiras bem como de destilarias de álcool, no país. Era um incentivo raro e interessante.*****
Lutei pela causa, no IAA. Na ocasião, fui informado já terem sido destinados ao município mineiro de Dores do Indaiá 50.000 cotas destinadas a recursos nessa destinação. Comentei as qualidades de terras existentes aqui e falei do engenho existente na Olaria que já produzia aguardente deste 1920. Eram só terras boas. Das melhores da região. Falei que minha sogra era proprietária de muitos mil hectares de terras férteis aproveitáveis àquele fim. E que eu também que era dono da fazenda dos Coqueiros herdada do meu sogro e que era continuação dessas mesmas faixas produtivas. Ficaram de estudar o caso e ordenaram a vinda de uma comissão do IAA a estudá-lo. Surpreendendo-me, tudo veio rápido e a conversa acabou gerando frutos muito importantes. Pois, vieram logo.
* Aqui chegando, visitaram as fazendas indicadas, principalmente a Capoeira da Cana (onde hoje existe a usina). O assunto teve seguimento. Resultado: até aquelas cotas destinadas ao endereço inicial mudaram-se de rumo e vieram para Lagoa da Prata que obteve também igual número perfazendo 100.000, como início da participação na idéia. Confirmada a criação da usina com esse recurso inicial, procurei pessoas talvez interessadas e fui logo ao maior líder industrial conhecido na região: Jovelino Rabelo (e este trouxe seu genro engenheiro para a orientação de tudo no começo desse mister: o Dr. Francisco Botelho Martins Vieira). Junto dele, fomos em busca de alguém ligado à questão e fomos convidando quem pudesse participar. Primeiro, trouxemos um dos maiores usineiros do nordeste, o pernambucano Fileno de Miranda, que veio e trouxe o Dr. Edgar Piereck (seu genro e que acabou tornando-se no seu porta voz) que era uma das maiores autoridades em usinas de açúcar e álcool; trouxemos o Deputado Dr. Djalma Pinheiro Chagas, porque precisávamos de apoio político também (e ele além de aderir ao movimento, indicou seu sobrinho para prefeito. Dr. Geraldo Pinheiro Chagas, o qual dirigiu este município num curto período: de 26/11/45 à 11/02/46); então, recursando, valemo-nos de empresários e banqueiros belorizontinos onde encontramos José Caetano Drumond, Lauro Mourão Guimarães, Pacífico Pinto da Fonseca, Joaquim Afonso Rodrigues, Raul Guimarães, Domingos Ribeiro de Oliveira e Silva, Pedro Teixeira de Menezes Júnior e Érico de Paula, além dos fortes participantes locais: a minha sogra Maria Bernardes Lobato a Dona Naná ( que era dona das melhores terras destinadas àquele fim), Carlos Bernardes Lobato e José Teotônio de Castro (o Zé Vital), os quais se tornaram nos primeiros membros de diretoria e do conselho fiscal.
Houve uma sucessão de acontecimentos e muitas reuniões principalmente no Clube Recreativo. E, finalmente, coroando o trabalho dos primeiros passos dados no seguimento da idéia surgida no primeiro semestre do ano anterior, foi constituída a Companhia Industrial e Agrícola Oeste de Minas para a exploração de suas atividades cujo objetivo era a instalação de uma usina açucareira com um anexo destinado uma destilaria de álcool. Formalizou-se a sua constituição e logo foi registrada a em empresa na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais onde recebeu o número 29770, de 8 de agosto de 1946, dizendo-se criada no dia 3 desse mês e ano. O fato se deu nos primeiros dias do 2º semestre do ano de 1946.
Criada e instalada, veio a produzir após ser autorizada pelo IAA e assim funcionou durante longo tempo ostentando o nome fantasia de Usina São Francisco. Para consolidar o objetivo e chegar-se a tanto, uma firma francesa, sediada em Paris a Fives Lilly, encarregou-se do fornecimento e da montagem do primeiro engenho destinado ao fabrico de açúcar (a usina propriamente dita). cujo trabalho ficou por conta de um técnico, vindo de lá, de nome Mr. Leôn Cousar, enquanto o setor de instalação e produção de álcool (a destilaria) era dirigido por um encarregado da CODIQ à uma empresa paulistana, dirigida pelo seu encarrego conhecido pela alcunha de Japão, visto parecer-se japonês (não tendo me inteirado do seu nome). Veio também, para dar início à produção, um prático experiente na produção de açúcar encontrado numa das usinas já existentes: o sr. Borges que era até chamado de Doutor. Desse jeito, foi-se indo até acontecer a primeira safra em outubro de 1948. Logo após iniciada a produção, a Ciaom foi transferida aos domínios do grupo financeiro do Dr. Antônio Luciano Pereira Filho, ora sob a direção do seu pai: Cel. Antônio Luciano Pereira, que dela se tornou Diretor Presidente. Isto aconteceu em 26 de fevereiro de 1949 (conforme ata registrada na Jucemg, nº 30.075 em 19 de março de 1949.
que foi um dos primeiros farmacêuticos locais; foi a pessoa mais importante (após a morte do Cel. Alexandre, cunhado e líder substituto do fundador de Lagoa da Prata: Cel. Carlos Bernardes); principalmente foi a única pessoa a lutar pela emancipação de Lagoa da Prata que ele próprio intermediou; e foi o primeiro prefeito.
Além disso, foi ele quem primeiro abriu mão de suas próprias terras em troca de cotas da CIAOM (razão de ser do marco desenvolvimentista deste município). E o seu nome era aparentemente desconhecido até a citação que fiz no livro que escrevi, onde conta essa realidade histórica do município, numa justa lembrança.. Convém ressaltar que desse começo participaram muitas pessoas inesquecíveis pela dedicação e entusiasmo , demonstrados na execução do plano. E sob indicações de José Mendes Macêdo, os setores foram montado para a administração da empresa. Diante disso, foram admitidos: Amadeu de Almeida (chefe do escritório) e seus auxiliares, Lázaro Santos de Oliveira, Carlos Almeida Santos, Messias Resende de Oliveira, Osvaldo Andrade e o Zizico (que era filho de um médico de Iguatama, cujo nome não consegui levantar), além do. Gabriel Pereira Lacerda, o Bié (numa salinha em frente) que na chamada Portaria, controlava todo o setor pessoal. Havia também amplo refeitório sob a direção do João Neca quando a Chica era a cozinheira.
Foi montado um armazém de abastecimento geral sob a administração de João Marinho de Oliveira e Lázaro Pereira Sobrinho (Nenê da Xanduca); ao lado, foi montado um almoxarifado onde o Sr. Alcides era o chefe e veio Robson Batista (de Ponte Nova) destinado ao controle de todo o sistema mecânico e funcional. Vivaldi Coutinho tomava conta dos veículos no setor de transportes. Fora da indústria, havia a parte agropecuária que dirigida por Orlando de Oliveira encarregado desse setor é bom lembrar que logo ao ser localizado o ponto da edificação e instalação da usina e diversos seus setores, foram construídos: 1. À margem da via férrea, uma série de casas de construção rústica (cobertas de indaiá) que ficou conhecida pela que representava: corrutela (onde moravam os trabalhadores na agricultura) e, do outro lado, em casas de alvenaria e cobertas de telhas, umas casinhas (alguma até com instalações sanitárias) formavam a Vila Operária Provisória e por ali estavam os setores administrativos praticamente em frente à usina. 2- Enquanto do outro lado, ao alto e pouco acima de onde estava o armazém, viam-se casas excelentes destinadas aos diretores da companhia; e, finalmente, 3- E onde antes fora a corrutela mais tarde foi edificada a autêntica Vila Operária que se parecia uma cidade e por ali existia quase tudo necessário numa comunidade organizada (esta foi demolida em 1989). Então, assim que a usina começou. Que se submeteu a tantas alterações: chamou Usina São Francisco, Usina Ovídio de Abreu e Usina Luciânia, agora de propriedade multinacional do complexo denominado Coinbra Cresciumal (Ramificação do grupo mundial Louys Dreyfus, sediado em Paris que se identifica, aqui, por Biosev Usina Lagoa da Prata) Uma empresa totalmente modernizada, de elevado porte representativo, cujo início e trajeto histórico inicial talvez muita gente desconheça.
* José Mendes Macêdo Faleceu em 2004 Próximo aos 100 anos de idade.
(Este texto faz parte dos trabalhos escritos e publicados pelo historiador Silvério Rocha de Oliveira nos jornais desta cidade, o qual já escreveu quatro livros dentre os quais Lagoa da Prata e Retiro do Pântano).
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